quarta-feira, 11 de abril de 2007

MARCHA na Assembleia Municipal da Amadora

Cerca de uma dezena de representantes do MARCHA estiveram presentes esta noite na Assembleia Municipal da Amadora. Deixaram um convite a todas as forças políticas representadas para que visitem a Taberna Ocupada p'la Cultura na Amadora. Um dos jovens fez a intervenção citada no final. A resposta de Joaquim Raposo, presidente da Câmara Municipal da Amadora, demonstrou a arrogância e a prepotência do executivo municipal. Chegou ao ponto de responder que "se não gostam da vossa cidade têm o azar de viver aqui". É sob a direcção deste tipo de políticos que vive a Amadora. No final, sem direito a responder às palavras de Joaquim Raposo, os jovens levantaram-se e abandonaram a sala.

"Numa época em que assistimos à degradação do sistema político português temos razões para estarmos preocupados. Os direitos e valores conquistados durante o processo revolucionário não se degradam sozinhos. As principais forças políticas que governam o nosso país há mais de 30 anos não souberam e não sabem corresponder aos anseios da população e dos jovens. Uma dessas forças é a que gere a nossa cidade. E da mesma forma que a nível nacional conseguem governar afastados das populações também aqui, na Amadora, governam para uma minoria e nessa minoria não está, obviamente, representada os trabalhadores e os jovens.

Os moradores da Estrada Militar sentem na pele a violação de um dos princípios mais elementares do ser humano. Expulsos de suas casas, vêem-nas ser demolidas por ordem da Câmara Municipal da Amadora. Sem garantias de que serão realojados. Também milhares de jovens vivem uma situação crítica. A falta de políticas para a habitação encerra-os em casa dos pais até idade bastante avançada. Muitos partem para outros concelhos à procura de habitação. Choca-nos que possa haver gente sem casa quando há tanta casa sem gente. No nosso concelho, há centenas e centenas de fogos devolutos. Perante este cenário, o PS navega à deriva, levado pelas correntes da especulação imobiliária e pelos construtores amigos. Se preciso for, apoiam o desalojamento de centenas de famílias ao mesmo tempo que abrem espaço à floresta de betão. Uma floresta cinzenta e silenciosa.

Silenciosa porque a pouco e pouco a Amadora foi perdendo vida. Em tempos, a nossa cidade foi um destino para quem queria assistir a espectáculos culturais. São muitos os exemplos de eventos que acabaram pelas mãos do actual executivo da Câmara Municipal. A semana da juventude, as exposições de escultura ao ar livre e a Fábrica da Cultura, para destacar apenas alguns. No entanto, podemos ir mais além e questionar porque não há um único cinema com oferta diversificada e que seja diário. Ou porque não existe um festival de teatro ou um festival de cinema num concelho que alberga a Escola Superior de Teatro e Cinema? Ou porque carece o concelho de casas da juventude? E o Prémio Zeca Afonso, destinado a promover a música popular portuguesa? Porque o tratam como se não tivesse qualquer importância?

É esta a triste realidade de uma cidade cada vez mais descaracterizada que impele os jovens e as populações a viverem o amorfismo e a apatia. À noite, as ruas desertas. De dia apenas a rotina casa-trabalho, trabalho-casa.

Porque rejeitamos viver num dormitório, dezenas de jovens, trabalhadores, estudantes, membros de grupos juvenis decidiram avançar com o MARCHA. O Movimento de Acção Reivindicativa pela Cultura e Habitação na Amadora surge como uma necessidade política dos jovens de reivindicarem o acesso à habitação e à cultura. O MARCHA pretende ser mais uma resposta organizada dos jovens aos ataques dos empresários, dos especuladores imobiliários, da Câmara Municipal da Amadora e do governo. O MARCHA pretende consciencializar os jovens e a população para as questões da habitação e da cultura. O MARCHA pretende agir para defender e ajudar a reconstruir a nossa cidade.

Ocupámos a antiga taberna "Portas Largas". O edifício histórico avançava para a ruína e o proprietário não demonstrou qualquer intenção de o recuperar. Um grupo de jovens tomou a casa em suas mãos e modela-a agora para a pôr ao serviço dos jovens e da população. No dia da ocupação, os membros do MARCHA contactaram com a vizinhança e explicaram os seus propósitos. Nas dezenas de conversas, o apoio de muitos moradores ficou expresso.

O MARCHA dedicou-se nas últimas semanas à reabilitação do edifício. Jovens, com o apoio de alguns moradores, lançaram-se ao trabalho. Neste momento, a recém-baptizada Taberna Ocupada pela Cultura na Amadora já recebeu e está pronta para receber mais iniciativas culturais. Desde cinema, teatro, música, dança, exposições, debates, aulas, todo o tipo de acções que possam envolver e apoiar as associações juvenis e os jovens que querem fruir e criar cultura. Portanto, não apenas criticamos como damos o exemplo.

Antes de terminar, queria mostrar a solidariedade do MARCHA aos moradores da Estrada Militar e a todos aqueles que não têm um tecto digno onde viver. A população tem razão e deve lutar para garantir que ninguém fique sem habitação. É um direito consagrado pela Constituição da República Portuguesa e um direito pelo qual lutaram gerações e gerações de trabalhadores e jovens."